As Coisas Públicas

Valter Hugo Mãe

11 de Dezembro de 2010

O colectivo dos homens organiza-se por perícia ou instinto. O colectivo dos homens é a complexidade integradora que, do mais erudito ao mais popular, tudo legitima. Pensar nas coisas públicas é pensar nas pessoas, em como por traços largos mas endémicos se unem e reclamam lugar ou voz.

Com a transição do modelo da monarquia para o modelo republicano, todo um sem fim de aspectos se viu reajustado.

Interessa-me pensar em como a manifestação popular preservou até aos nossos dias mitos ou tiques típicos de outro tempo, ansiando ou não por recuperar algo que se perdeu, abraçando melhor ou pior a nova ordem.

A memória das pessoas é uma vastidão de referências, entre as quais, ainda que inconscientemente, muito do que racionalmente rejeitamos pode ainda marcar presença, como fantasia ou tradição.

As coisas públicas são o repositório da memória, a memória viva do que se diz, do que sobra no linguajar e na forma como as pessoas ainda arrumam o pensamento.

 

MVV - Museu da Vila Velha
Rua de Trás-os-Muros
Vila Real

nasceu em Saurimo, Angola, no ano de1971. Licenciado em Direito, pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Vive em Vila do Conde.

Publicou os romances: a máquina de fazer espanhóis (2010), o apocalipse dos trabalhadores (2008), o remorso de baltazar serapião, Prémio José Saramago (2006) e o nosso reino (2004).

Escreveu quatro livros ilustrados para os mais novos: O Rosto (2010), As mais belas coisas do mundo(2010), A história do homem calado (2009) e A verdadeira história dos pássaros (2009).

Valter Hugo Mãe é vocalista do grupo musical Governo (www.myspace.com/ogoverno) e esporadicamente dedica-se às artes plásticas.

Escreve a crónica Autobiografia imaginária no Jornal de Letras.