Mas... Candidatos para o quê?

Este projecto consistiu numa performance interventiva em espaço urbano, com o principal propósito de provocar os transeuntes. Colocando-os perante uma simulada realidade utópica, carregada de ironia.

Na república (essa coisa pública), o país é, mesmo que indirectamente, governado pelo cidadão. Esta depende muito da participação do mesmo. Assim pretendi, com a minha intervenção, colocar em causa o real poder do cidadão, apresentando a realidade inexistente em que o poder político é acessível aos cidadãos por igual.

Candidato é alguém que se propõe a um ofício público. Mas num sentido mais figurado candidato pode ser o cidadão que assume um papel activo na sociedade, com um potencial a ser aproveitado, com uma voz a ser ouvida. Candidato é também quem mostra a cara e expressa uma vontade, e posição perante determinado enquadramento político, social e económico.

É nestes sentidos de candidato que esta intervenção urbana se baseia. Satirizando com o sistema eleitoral, apresentou-se em espaços públicos – sobre paredes de ruas movimentadas – painéis de candidatos (com as caras do povo, variados em etnias, grupos sociais, estilo, sexo e idade) de braços cruzados, pose séria. Tentando que com este confronto perante o que a república deveria ser, os transeuntes se posicionassem perante o poder e intervenção política que lhes são devidos, e se questionassem sobre o quanto a actual república dista dos seus originais ideais democráticos.

O contexto pré-eleições presidenciais apenas ajudou a aumentar o carácter provocador do projecto.

Tive também como propósito observar e registar os efeitos da instalação pública de candidatos, no seu espaço urbano, e nas pessoas que passavam, Assim, a fotografia serviu de início e de fim.

A intervenção foi realizada em três locais diferentes. No Cais do Sodré, na avenida de Brasília. No Rossio, na calçada do Carmo. Em Tomar, na rua Serpa Pinto (antiga Corredoura).

As imagens apresentadas são resultado do registo das três e respectivos impactos.

As reacções aos candidatos começaram, naturalmente, no preciso momento da sua instalação, e prolongaram-se tanto quanto esta permaneceu. As reacções foram diversas, tendo superado as expectativas. Dando origem, em certos casos, a interessantes discussões com indivíduos que se deixaram confundir pela instalação ou que se indentificaram com a mesma. Muito apreciada foi a reacção exclamada “Eu devia estar aí!”. No entanto a mais proferida era “Mas candidatos para o quê?”, o que significa que os 36 candidatos, meros cidadãos tal como os espectadores tinham perante estes o poder de os convencer do seu estatuto de candidatura formal. “São candidatos ao parlamento?”, perguntavam alguns.

O título do projecto reutiliza a reacção mais ouvida “Mas... Candidatos para o quê?”. Para que votamos nos candidatos que nos são apresentados? Com que esperança o fazemos afinal? E é o quê isto para que votamos? A República pela que lutámos?